“Nosso tempo é uma sociedade planetária cheia de possibilidades e riscos, em que as ferramentas da velocidade não são mais as pernas. Diversidade, mudança e fragmentação fazem da vida uma constante reflexão. Os sinais emitidos pela tradição estão agora em branco. Fazer escolhas, assumir o risco da decisão e responsabilizar-se pelas escolhas feitas são questões fundamentais que se colocam hoje para todos nós.
A juventude —uma categoria inventada pelos adultos— mantém-se, mas os seus gostos, atitudes, sonhos e sentidos tornam-se cada vez mais difíceis de somatizar. A experiência social contemporânea marca as identidades juvenis com um profundo desejo de viver em grupo, fazer-se na relação com o outro. O eu é relacional e móvel para responder a uma contemporaneidade que exige flexibilidade (Melucci, 1992).
Se a sociedade contemporânea gera demandas amplas e complexas, não oferece os meios para a inserção dos jovens, que fazem, das práticas culturais, formas de expressão, convivência e, por que não, bandeiras de lutas.
As redes interativas dos jovens diversificam-se cada vez mais, com grande dispersão das identidades e projetos. Assim, muito se tem para indagar sobre os jovens e os estudos têm mostrado grandes lacunas no entendimento da condição juvenil na sociedade contemporânea.
Este artigo é parte da pesquisa desenvolvida para dissertação de mestrado apresentada em 2003, no Programa de Pós-Graduação em Educação da ufrgs, sob orientação do Nilton Bueno Fischer. O trabalho empírico foi realizado com jovens de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, tendo como referenciais teóricos Alberto Melucci, Marília Sposito, José Antonio Pérez Islas e José Machado Pais, entre outros.
Trazem-se, neste texto, reflexões mais teóricas que sustentaram a pesquisa situando questões que emergiram na pesquisa empírica, como as condições sociais a que estão submetidos os jovens brasileiros diante da falta de trabalho, escola e da ausência da família. Portanto, num contexto marcado por inúmeras dificuldades e desafios, como os jovens estão construindo suas identidades e marcando espaços de sociabilidade que permitam a troca de experiências, o reconhecimento e a construção dos sentidos de presença (Carrano, 2003).”